quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Noite de Verão

Estava uma noite mágica de Verão. O céu, salpicado de estrelas, cativava pela sua infinitude. Jesus deitou-Se ali mesmo, naquele pedacinho de relva perdido no mundo. Estava fascinado pelo alcance do Seu olhar. Por vezes passava as mãos pelos olhos para saber que não era apenas um sonho. E depois sorria, com aquele sorriso que só Ele sabia fazer.
Começou a pensar nos Seus amigos. Lembrava-se de um Pedro apaixonado que Ele carinhosamente tratava por irmão. Visitava-O a expressão decidida de João, que Ele adorava tirar do sério. Recordava as boas piadas de Tiago, cuja alegria sempre O tocava. Depois, lembrou-Se do cego que se atirara a Seus pés, naquela tarde, suplicando Misericórdia. Os olhos de Jesus ficaram brilhantes com esta recordação. Um só gesto Seu bastou para que Bartimeu visse. Aquele primeiro olhar de Bartimeu foi impressionante, uns segundos de silêncio que valeram uma eternidade. Quanto se amaram, nesse instante! E depois Bartimeu seguiu-O, na longa estrada empoeirada de Jericó.
- Obrigado Meu Pai! - Soltou Ele, enquanto os seus dedos brincavam com a relva.
Deteve então o Seu olhar na lua. Jesus gostava imenso de olhar a lua e de Se deixar seduzir pela sua magia. Jesus estava feliz. Aqueles momentos a sós com Deus Pai realizavam-No, faziam-No crescer. Sentia uma imensa paz, apesar do grande número de pensamentos que trazia consigo.
E enquanto olhava a lua, e rezava, deu-se, de repente, um "click" que O fez saltar de entusiasmo.
- Ena! Como é que ainda não Me tinha lembrado!....
Precisou de um lápis e de uma folha que logo apareceram. Sorriu. E começou a desenhar-me. Desenhava-me com toda a perfeição, cada traço era feito com cuidado e Amor. Fazia imensos efeitos com o carvão, e à medida que os fazia, compreendia-me. Por vezes, com certos riscos mais fortes, acenava docemente com a cabeça. E ia olhando com cumplicidade para o Céu, de onde Deus Lhe ia guiando a mão que desenhava.
Esteve toda a noite nisto. E, por fim, olhou-me, nos meus olhos. Amou-me profundamente. E assinou o meu retrato, como o pintor que assume uma obra.
Ergueu-Se, e deu Graças ao Pai, de braços abertos. E mal abriu os braços, lembrou-Se da cruz que O esperava daí a umas semanas. Então olhou para o meu retrato e sussurrou-me, comovido: "É por ti".Depois, guardou-me na Sua túnica, e seguimos juntos pelo caminho.

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