segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Advogado

Depois de inflamada dissertação sobre o Direito, seus princípios e instituições, objectivos e valores, fundamentos e elevação, e após entusiasmados aplausos da audiência, o advogado perguntou ao amigo, enquanto retirava a toga:
- O que pensa da minha defesa, meu caro Mota Soares?
O outro pensou por momentos.
- A sua defesa foi verdadeira?
- Bom, meu caro doutor, bem sabe que por vezes a verdade pode ser contada de muitas maneiras diferentes...
- Compreendo. E a sua defesa foi justa?
- Depende da perspectiva. Na perspectiva do meu cliente foi, na perspectiva do réu, não, o coitado vai ficar sem tecto porque ficou desempregado.
- Estou a ver. Enfim, a sua defesa foi útil?
- Não, particularmente. A decisão do juiz não seria alterada, a lei é clara nestes casos.
- Então, o que quer que eu lhe diga?...
- Ora, talvez pudesse ter apreciado uma certa eloquência, digo, o poder da retórica, a grandeza das palavras na solenidade do momento.
- E de facto apreciei a forma. Mas creio que a estética deve servir o argumento e nunca o contrário. Se a sua dissertação não for verdadeira, nem justa, nem útil, de que serve compor o mais notável dos discursos? Será sempre enganador na sua falsidade, mau na sua injustiça e vazio na sua inutilidade.

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