terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Correspondência de Guerra

- Mas, meu general...
- Não adianta, sargento. Vamos lutar até à última gota de sangue.
O sargento revoltou-se.
- "Vamos"? Ora, meu general!
- Que diz, homem?
- São aqueles desgraçados que vão morrer! Que direito temos de atirá-los assim para a morte?
O general olhou-o com altivez.
- Deve estar farto das insígnias que traz nos ombros... Pode sempre juntar-se aos seus amigos na trincheira e morrer com eles.
O sargento mordeu a boca.
- Vá transmitir as ordens do marechal aos soldados. Não retiramos.
E fazendo menção de sair da tenda de campanha, foi detido de seguida:
- Não.
- O quê?
- Não. Vou dizer aos homens para fugirem deste inferno. Não lutamos pela Pátria, nem pela Liberdade. Morremos sim pela ganância.
- Cobarde! Prefere a humilhação?
- Não confunda coragem com orgulho. E além, disso, não haverá maior coragem que a de assumir a derrota, quando ela é real. Morrer será fugir para não ver o que vem depois.
- Acabou-se a discussão. Faça o que lhe disse ou será destituído.
- Seja.
- Raios! Que militar miserável! Não lhe falaram sobre obediência na Academia?
- A obediência é um serviço à Liberdade e não ao despotismo. Obedecer não é aniquilar a inteligência, mas confiar no líder. Merece-nos essa confiança?

1 comentário:

  1. Caro João,

    Mais um texto onde consigo ver tão bem escrito aquilo que também me já passou pela pensamento e ainda passa.

    Um abraço

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