quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Carta de um Missionário Distante

Segundo o que consta em cartas anteriores, Pedro Moniz deixara, há alguns meses, a comunidade onde trabalhou durante um ano, uma pequena Igreja no meio de uma enorme cidade, para onde conseguiu atrair muita gente que pouco ouvira falar de Deus. Atento aos desafios da vida em cidade, e sensível à fragilidade da semente que Deus aí lançou, mantém intensa correspondência com a comunidade, que lhe vai fazendo chegar as suas dúvidas e receios.

Esta carta não faz qualquer menção temporal; não conseguimos, portanto, datá-la. Não encontrámos nenhum registo da existência de Pedro Moniz. Tão pouco nos pronunciaremos quanto à natureza dos seus escritos, apenas os publicando, neste espaço, pela singela marca da sua assinatura, a saber: «Pedro Moniz, Alegre Servo do Senhor».


Meus Irmãos;

Queira Deus que através das minhas palavras encontre consolo a vossa tribulação. Eu, enviado por Cristo a falar-vos do Evangelho, em Cristo partilho a vossa inquietude, que é uma marca da condição humana. Mas nem assim se afasta o meu coração dos firmes propósitos que o Senhor me comunicou, pois sei em quem pus a minha confiança.

O mundo convida-nos permanentemente a moldar o nosso desejo e vontade às circunstâncias. Pois eu digo-vos: sede como mexilhão firme, incrustando-vos no Senhor Jesus; não sejais como as algas, que apenas seguem o movimento das marés. Não confundais a flexibilidade cristã, que é fruto da confiança e da disponibilidade, com o relativismo pagão, que vos leva para longe da vontade verdadeira. Vós, que sois relativos, encaixai-vos apenas no absoluto, que é o único que vos pode completar. Se um relativo se alimentar de coisas relativas, como poderá exceder-se? Vós sois vasos, e não os seus moldes. Não vos afasteis da vossa natureza de decisores, deixando que outros escolham por vós. Se o sal perder o seu sabor, é inútil e é lançado fora. Antes conquistai os outros com o vosso sal intenso, para glória do vosso Pai que vos olha e ama.

A cidade move-se depressa e a toda a hora sois solicitados para novas coisas. Lembrai-vos que nada nos foi proibido, mas nem tudo nos convém. Vós quereis fazer a vontade de Deus, mas andais divididos na forma de a conhecer. Confiais em demasia no juízo da vossa mente, que é hábil e eloquente, e desconfiais da linguagem do coração, que é sábia e iluminada. Eu digo-vos: à semelhança de Maria, ponderai todas essas coisas no vosso coração. Não vos deixeis guiar pelas sensações; porém, não chameis de sensação à voz ardente que fala no interior do vosso coração. Construí uma ponte entre o coração e a razão para que colaborem na descoberta da Verdade, ao invés de divergirem. Se a vossa perna direita discutir com a esquerda, querendo ir uma para a frente e outra para trás, acaso chegareis a algum lugar? Do mesmo modo que o vosso corpo está coordenado, coordenai o vosso interior. Este é o vosso trabalho: preparar o caminho do Senhor dentro de vós.

No mais, não vos inquieteis, pois uma só coisa é necessária. Vós sois de Cristo e, por isso, aspirais viver em amor. Como nada nos pode separar do amor de Deus, já sois amados, de forma incomparável; amai muito, e assim completareis a vossa aspiração. Do mesmo modo, se muito amardes, muito vos será perdoado. Vencei o pecado através do amor e não da regra. Este será um sacrifício agradável a Deus que vos aproximará do Seu modo, pois Deus é perfeito e a caridade é o vínculo da perfeição.

Lembrai-vos em cada momento de desânimo que Deus vos segreda: és precioso a meus olhos. E em cada vez que a sombra da dúvida vos fizer hesitar entre o bem menor e o bem maior, procurai, na vossa alma, o fogo ardente de Cristo que sussurra: Tu, segue-me.


Convosco, em Cristo,

Pedro Moniz,
Alegre Servo do Senhor

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