terça-feira, 22 de setembro de 2009

Da Ética e do Direito

- Nobilíssima Ética! - começou o Direito - Consta que as empresas pretendem ensinar-te em cursos on-line.
- Ai sim?... - respondeu ela, distante.
- Na verdade, desejam dedicar-te até um departamento.
A Ética sorriu, ironicamente.
- E que te parece isso, ilustríssimo Direito?
O Direito reflectiu por instantes.
- A doutrina divide-se... - suspirou, melancólico.
- Então? - questionou a Ética, agora interessada.
O Direito adquiriu a sua forma Natural.
- É justo, distinta Ética, que não sejas tratada abaixo de mim. Se dos homens mereço toda a espécie de instituições, despesas e cuidados, deveriam eles oferecer-te não menos consideração.
Mas, depois, positivou-se.
- Todavia, o que será a tua legitimidade, nessa nova condição, senão eu próprio, o Direito?...
- Como assim?... - perguntou ela.
- Quem te definirá, Ética?... Quem dirá o que és, de que modo de te realizas e em que situações te manifestas? Quem te limitará, senão a lei?... Quem te assistirá, senão a sua coacção? Passarás a ser uma esfera de mim mesmo, e perderás a tua soberania.
- Falas verdade, Direito, como é próprio da tua natureza. Se me reduzirem a um departamento e a um conjunto de procedimentos, não serei mais que uma adenda aos teus códigos.
- Que fazer, pois? Que dizer aos homens, para que não te confundam comigo?...
A Ética olhou pela janela do conhecimento. E respondeu:
- Lembremos-lhes Deleuze: "Ética é estar à altura do que nos acontece".

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